terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

NOSSA CAMINHADA

O homem ignorante dos seus destinos é semelhante a um viajante que percorre maquinalmente uma estrada, sem dela conhecer nem o ponto de partida e não sabe o por que viaja; que, por conseguinte, está sempre disposto a deter-se ao menor obstáculo, e perde seu tempo sem a preocupação do objetivo a atingir.

Se a vida está circunscrita do berço ao túmulo, se as perspectivas da imortalidade não vêm esclarecer nossa existência,o homem não tem outra lei senão a dos seus instintos, dos seus apetites, dos seus gozos.

Pouco importa que ele ame o bem, a equidade, se ele apenas aparece ou desaparece no mundo, se ele carrega consigo para o olvido suas esperanças e suas afeições, sofrerá tanto mais, quanto mais puras, mais elevadas forem suas aspirações; amando a justiça, como soldado do direito, ele se acredita condenado a não ver quase nunca sua realização; apaixonado pelo progresso, sensível aos males dos seus semelhantes, imagina que se apagará, antes de ter visto triunfar seus princípios.

Com a perspectiva do nada, quanto mais tiverem praticado o devotamento e a justiça, mais suas vidas serão férteis em amarguras e decepções.

O egoismo, bem compreendido, seria a suprema sabedoria; a existência perderia toda grandeza, toda dignidade.

A negação da vida futura suprime também qualquer sanção moral.

Com ela, sejam bons ou maus, criminosos ou benevôlentes, todos os atos chegam ao mesmo resultado.

Não há compreensão para as existências miseráveis, para a obscuridade, para a opressão, para a dor, não mais consolação na provação, mais esperanças para os aflitos.

Nenhuma diferença aguarda no futuro, quem foi egoísta e o mártir.

Se tudo termina com a morte, o ser não tem, pois,nenhuma razão de se constranger, de comprimir seus instintos, seus gostos. Fora as leis terrestres, nada poderá retê-lo.

O bem e o mal, o justo e o injusto confundem-se, igualmente, e se misturam no nada. E o suicídio será sempre o meio de escapar aos rigores das leis humanas.

A crença no nada, ao mesmo tempo que arruina qualquer sanção moral, deixa sem solução o problema da desigualdade das existências, no que toca à diversidade das faculdades, das aptidões, das situações, dos méritos.

Com efeito, por que, para uns todos os dons do espírito e do coração, os favores da fortuna, enquanto que tantos outros não têm em partilha senão a pobreza intelectual, vícios e miséria?

Por que, numa mesma família, pais, irmãos, provenientes da mesma carne e do mesmo sangue, diferem-se essencialmente sobre tantos pontos?

Tantas questões insolúveis para os materialistas, assim como para muitos crentes.


Leon Denis - texto de 1925 - Mas sempre atual

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