segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

AS DUAS FACES DO ORGULHO

"...porquanto todo aquele que se eleva será rebaixado, e todo aquele que se humilha será elevado!" (Lucas: XIV, 10-11)

Como nos esclarece Kardec no capítulo VII de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, as máximas preconizadas por Jesus, em relação ao sentimento do orgulho do homem terreno, vêm nos revelar uma condição essencial de sermos humildes para atingirmos à suprema felicidade.

Para isso, contudo, precisaríamos nos despojar primeiramente de qualquer resquício de egoísmo, soberba, altivez, arrogância e vaidade extremada.

O orgulho, em verdade, é um sentimento dúbio, sempre à beira dos limites e que pode tanto nos levar às alturas como nos fazer despencar num abismo sem fim.

Assim, saber dosá-lo adequadamente é o nosso permanente desafio, já que este sentimento, como sinônimo de dignidade pessoal, é um dos ingredientes básicos da receita do sucesso e do fortalecimento da auto-estima; e, em sua contraparte, como conceito exacerbado de si mesmo, invariavelmente, resultará em atitudes egoístas.

Os que não possuem orgulho, em seu sentido positivo, seja próprio, seja grupal, em geral padecem de uma humildade excessiva, podendo aceitar qualquer imoralidade ou amoralidade que lhes seja proposta, porquanto os que constantemente se impõem sacrifícios e humilhações não raro confundem suas fraquezas com humildade e tornam-se capacho dos outros, aceitando a idéia de que são bastante insignificantes.

Notadamente, onde há um traço de superioridade, sempre existe a contraparte inferiorizada.

Nos processos históricos de dominação do ser humano, o orgulho/amor-próprio/dignidade é o primeiro sentimento a ser reprimido pelo dominador.

Fazer ou induzir uma pessoa a implorar por algo, privar alguém de seus bens materiais e/ou de seus valores morais e culturais, por exemplo, é destituí-lo por completo de sua individualidade, de seu livre arbítrio e de sua consciência de criatura ímpar, indivisível, porém inserida num TODO CÓSMICO que, em nenhum momento, pretende ser uma força esmagadora do desenvolvimento e aperfeiçoamento das virtudes e talentos individuais.

Felizmente, parece existir na raça humana um gene responsável pela perpetuação dos brios da espécie que sobrevive às mais torpes situações. A atitude digna sempre prevalece, tal como o bem sempre sobrepuja o mal como estamos acostumados a ver nos belos Clássicos Universais da Literatura Infanto-Juvenil.

Num outro aspecto, vemos o orgulhoso/arrogante confundindo auto-estima com autopromoção, vivendo a se vangloriar de cada vitória, enterrando sob uma fina camada de areia todos os seus erros e fracassos que se tornam visíveis à primeira lufada de vento. Sem compaixão por nada nem por ninguém, apresenta tendências egoístas e tem enorme dificuldade de perdoar.

Perpetua suas máscaras sociais e fica constrangido se a situação requer espontaneidade. Qualquer quebra de padrão o derruba. Fica absolutamente deslocado quando não domina a situação ou não é o centro das atenções.

Dessa forma, o arrogante, de tanto jogar no time do "eu sou mais eu", acaba atraindo a antipatia e a indiferença dos outros, pois ninguém aguenta conviver muito tempo com a presunção de uma pessoa que só conta vantagens, muitas delas, geralmente, nem verdadeiras são.

Com o passar do tempo, lembranças de glórias efêmeras são as únicas companheiras que lhe restam, já que ele não soube compartilhar o seu sucesso nem os de outras pessoas. Pobre criatura arrogante! Não sabe que ninguém foge às inexoráveis Leis de Ação e Reação e do Processo Reencarnatório.

No passado, colocou o orgulho e a vaidade no coração de um irmão que lhe seguiu o exemplo menos feliz; no presente, partilha com ele a afeição de um pai despótico, ou de um filho-problema, ou ainda de um vizinho ou de um chefe prepotente, entre outros relacionamentos conturbados com que nos deparamos em nosso dia-a-dia.

Na verdade, ser humilde consiste em simplesmente aceitar suas deficiências e seus defeitos, obstáculos momentâneos à plena realização e felicidade espirituais, não se esquecendo de que tudo isso pode ser superado e modificado com esforço e determinação.

Todos nós temos defeitos, e quando estamos cientes desses defeitos em nós mesmos, é difícil manter uma atitude superior em relação aos outros.

Conforme vamos nos tornando honestos, dispostos a admitir as nossas deficiências e ampliando a nossa consciência de entendimento da natureza humana, aumentamos nosso autoconhecimento e auto-respeito e passamos a nos preocupar igualmente com o bem-estar dos outros.

E essa qualidade de consciência de si mesmo e de interesse pelo próximo gera a verdadeira humildade. Só os que são verdadeiramente grandes têm sabedoria suficiente para viver a humildade em sua plenitude.

Nenhum de nós é ainda modelo de perfeição, e, por isso, é imprescindível saber respeitar e conviver com as diferenças. Não nos cabe julgar nem mesmo condenar pessoa alguma, pois ainda por muitas existências, sempre apresentaremos defeitos sob algum aspecto. E como nem só de deficiências vivem os homens, todos nós temos muitos talentos a serem cada vez mais desenvolvidos, dos quais devemos nos orgulhar sempre.

EDUARDO F. PAES

Nenhum comentário:

Postar um comentário